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Friday, November 10, 2006

Novell, Microsoft, Software Livre e a Comunidade

O acordo entre a Novell e a Microsoft já não é novidade para ninguém, mas esse é mais um texto que fala sobre isso. Aguardei alguns dias para ver que rumo de algumas coisas tomariam, e a minha conclusão, que segue abaixo, é independente de qualquer mudança no acordo e eu diria, independente até desse tão comentado acordo.

No mundo dos negócios o que vale é a sobrevivência e o lucro. Não há lugar para ideologia o filosofia, mesmo que essas sejam as premissas da sustentabilidade futura do seu modelo de negócios adotado. Isso é fato, e nem a Novell, nem a Microsoft se esqueceram disso. Presumir que a Microsoft virou santa é tão estúpido quanto presumir que a Novell é tola.

A verdade é que parece um negócio. Puro e simples. Se der lucro ótimo, se não der, bem, prejuízo não dará... pelo menos não para a empresa.

A grande perda, nesse caso, é ideológica. O "Software Livre" perde adeptos entre os que não conhecem "a causa". Quero dizer: porque criar o amsn para falar, se existisse suporte do msn oficial no linux ? A causa, o motivo, ou seria melhor escrever "a motivação" do desenvolvimento de tecnologias alternativas livres fica comprometida.

Mas isso é tão ruim assim ? Sim, atrasa, e atrasa muito o desenvolvimento de algumas alternativas. Pode induzir ao péssimo hábito de copiar o que está pronto para evitar reescrever outra alternativa livre, mas esse é apenas parte da visão. O maior problema é a divisão da comunidade. Muitos ótimos programadores podem não estar interessados em trabalhos extras para resolver problemas que já tem solução.

A comunidade de programadores tende a se dividir em duas, não necessariamente do mesmo tamanho (na verdade eu tenho certeza que não serão do mesmo tamanho), mas se dividiram entre as que concordam com a utilização parcial de um código fechado e as que vão querer, de qualquer forma, criar tudo livre. Isso por si só já atrasa tudo.

Nas questões que transcendem a filosofia, nas questões práticas, o acordo é positivo, pelo menos no primeiro momento. Mas o futuro pode ser muito, mas muito perigoso.

Existe sempre a questão: o que é livre hoje pode não ser amanhã, mas o que já foi distribuído como software livre contínua livre sempre, mesmo que a empresa mude de opinião quanto a versão futura dos software. Da mesma forma ocorre com o freeware, hoje grátis, amanhã pode não ser mais grátis, as versões antigas continuam sendo grátis, mas ao contrário do software livre que deixa de ser livre, não é possível criar um fork da solução, ou seja, não será possível criar um desenvolvimento paralelo do software, já que o código nunca esteve aberto !

Agora notem que essa discussão não é nova e nem tem nada haver com a Microsoft ou Novell, ao contrário, ela é a base de toda a luta do "Software Livre", o real motivo de estarmos fazendo essa discussão agora é que o nome Microsoft chama atenção demais. A nVIDIA, ATI, Intel e tantas outras empresas que adotaram o mesmo modelo de adotado pela Microsoft em acordos com distribuições linux, não foram vistos com o mesmo nível de preocupação. Em parte, porque eles vendem hardware e não software, mas a dependência que temos da tecnologia é grande. O que aconteceria se nVIDIA resolvesse cobrar pelos drives para linux ? Ela poderia fazer isso? Não para as placas antigas, ou seja, as já vendidas, para ela poderia parar de introduzir novos recursos. Que alternativas nós teríamos ? O drive genérico, nv. Que é bom, mas se comparado com o oficial da nVIDIA é muito ruim.

Agora notem que isso é uma relação de mão dupla, se a nVIDIA parasse de distribuir os drives, muita gente compraria ATI, que não é boba, e esperaria todo mundo comprar as placas para fazer a mesma coisa que a nVIDIA. Mas elas não vão fazer isso, e sabe porque ? Lucro. O máximo de lucro ocorre com o atual modelo de negócios, perturbar esse modelo de negócios dá prejuízo e ninguém quer prejuízo.

Por outro lado, quando a relação é feita entre empresas de softwares tudo fica muito mais evidente. Fica mais claro. Os possíveis problemas são muito mais fáceis de se perceber. Mas da mesma forma que no caso anterior, existe um equilíbrio. Um equilíbrio que não pode ser quebrado, afinal o lucro é o que interessa a uma empresa. A nível usuário e economia, nada muda, a nível filosofia e desenvolvimento, pode mudar.

Ciente de que nem todas as pessoas entendem e/ou concordam com essa visão, eu me reservo no direito de considerar o acordo da Miscrosoft e a Novell prejudicial ao Software Livre, pois considero que teremos mais prejuízos do que lucro a nível filosófico. Mas e daí ? As empresas não vão voltar atrás por causa de uma simples opinião de um usuários que não usa windows e nem usa suse, é talvez não. Mas isso não importa.

O jogo consiste em continuar com a mesma sede de conhecimento e desenvolvimento de alternativas livres independentes das soluções proprietárias que existam. Eu não sou do tipo que diz: parem de usar software proprietário. Eu sou do tipo que diz: use software livre. O que pode parecer a mesma coisa no primeiro momento, é diferente, no primeiro desclassificamos uma categoria inteira de software, no segundo buscamos alternativas, se elas não existem, bem usemos o proprietário, mas sem esquecer que devemos buscar a alternativa livre.

A busca pelo conhecimento define a evolução, não serão os acordos comerciais que farão a diferença, mas o comportamento da comunidade, como um todo, frente a dúvida entre o código fácil e o código livre.

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4 comments:

  1. Concordo com sua opinião, acredito que devemos preservar a filosofia, tê-la como princípio sempre. A propósito escrevi um breve texto sobre este assunto.

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  2. A sua análise, bastante ponderada, está influenciando a minha opinião (que ainda não está formada!)

    Ótimo texto! Me inspirou uma entrada no meu blogue :-)

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  3. Mas a MS não disse que vai suportar o MSN para desktops GNU/Linux. Eu acho que a maioria das análises está super-dimensionando o escopo do acordo =).

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  4. Gustavo,
    acho que não compreendeu perfeitamente a essência do exemplo. Não se trata de uma conjectura, nem mesmo de um dado concreto, mas de um efeito cascata que relaciona o ponderável com o possível.

    Como eu disse no começo, não se trata de conclusões baseadas em um acordo. Discutir isso agora é conseqüência do acordo, as conclusões não.

    Basicamente as conclusões são derivadas da "lei da ação e reação" aplicadas a economia de mercado em intercessão ao desenvolvimento do software livre.

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