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Saturday, November 29, 2008

Projetando os gastos para 2009

Mas um fim de ano se aproxima e mais uma vez os gastos aumentam. Todos os anos todos os canais da mídia enfatizam a necessidade de criar uma "educação financeira" e ajustar planilhas de gastos adequadamente.

Do meu ponto de vista, mas importante do que ajustar os gastos mensais a cada etapa do ano, é prever o futuro. Sim. Prever o futuro. Mas não estou falando de adivinhar com cartas ou tarô ou mapa astral o que vai acontecer no ano de 2009. Estou falando de prever todos os gastos do ano de 2009.

Normalmente, um dos maiores erros que eu já observei em quem faz planilhas é usar a frase "mais isso é um imprevisto". Deixa eu contar um segredo: "imprevistos de verdade são poucos, pouquíssimos".

Vamos colocar um caso usual. Ano que vêm "você" pagará a conta de luz, gás, água, condomínio, aluguel, plano de saúde e gastos com alimentação/supermercado e, talvez, transporte. E sim, você pode estimar os custos de todos esses itens. Como ? Pegue todos os gastos do ano de 2008, faça a média, multiplique por 1,1 e você tem os gastos médios de 2009 em um cenário quase pessimista (otimismo em alguns itens, pessimismo em outros, dá certinho na maioria). Se tiver a planilha de custos passada do ano de 2007, verifique qual foi o aumento que cada um dos seu itens teve em 2008, use 1,1 para todo item que tiver tido um aumento menor que 10 %.

Mas há um erro nessa planilha, um erro GRAVE. Ela não incluí os assim chamados "imprevistos". E eu posso dar um exemplo. Eu sempre projeto que vou gastar 700 reais com dentista todos os anos. Sabe quando eu gastei mais de 350 ? Nunca, mas todos os anos está lá, marcado, 700 reais... Pessimismo ? Alguns dizem que sim. Eu digo que se um dia eu precisar desses 700 eles vão estar reservados, separados na minha contabilidade futura e tudo que eu não usar sobra como "lucro" no final de ano.

Eu também sei que em 2009 o pessoal do trabalho deve sair para comemorar alguma coisa. E eu sei que isso deve ser de 4 a 6 vezes (duas defesas de colegas, dois aniversários - o do chefe e mais um - o fim de ano e uma despedida) e eu sei quando podem ocorrer defesas, quando são os aniversários mais prováveis, e quando será a festa de fim de ano ... o que eu não sei é quando será a despedida de alguém (despedida/bota-fora - ninguém morreu não, tá ?). Eu sei em que cada uma dessas ocasiões existe a possibilidade de eu gastar de 30 a 60 reais. Oras, assuma que serão 50 reais. Distribua esses gastos nos meses mais prováveis e o que não fizer idéia, coloque em agosto.

Eu sei que eu vou querer comprar um ou outro livro, que eu vou querer um ou outro DVD e que irei ao cinema algumas vezes. Oras, você PODE prever quanto você vai gastar em cada um desses itens. Para dizer a verdade, esses itens você pode definir quanto você quer gastar - coloque um teto.

E Novamente, parecendo pessimista, mas é verdade, raramente você termina um ano sem comprar remédios (e eu falo de remédios adicionais a remédios de uso contínuo). Quanto você gastou com esse item no ano de 2008 ? E em 2007 ? Você sabe ? Sim. Então você sabe quanto você vai gastar em 2009, no cenário pessimista, você vai ter um ou outro problema que na média pode ser muito parecido com o passado. Ok, mas em 2008 eu fiz um tratamento caro, me curei e não estou mais prevendo esse gasto, estou certo ? Sim. Não faz sentido prever gastos exagerados ou ser pessimista demais. Mas note que em 2007 você não previu que teria gastos com um tratamento caro em 2008. Não cometa o erro de achar que de que nada vai acontecer, se não acontecer, é dinheiro no final do ano, e se acontecer você não terá que se preocupar com os custos.

E se eu perder o emprego ? Existe essa possibilidade ? Até existe. Mas são raros os casos que isso realmente vem do nada. Sinais de que existem problemas a vista normalmente ficam claros com 2 ou 3 meses de antecedência. Além disso, você terá direito a seguro desemprego e outras coisas que normalmente permitem uma vida por algum tempo. Certamente se você passar por isso, vai precisar mudar suas projeções. Mas a menos que você já acredite que isso vai se tornar um realidade, não deve ser uma preocupação grande. Na pior das hipóteses, com todos os gastos já listados, será mais fácil saber onde cortar o que para contornar o problema.

Faça um pé-de-meia. Se for possível - claro - inclua um pé-de-meia mensal. Serve como um seguro pessoal contra os piores cenários. Então, inclua isso no orçamento e com valores que você realmente pode comprometer. Deixo as dicas de investimento para quem sabe do que fala.

Mantenha uma lista compras. Nela, coloque tudo que quer comprar, seja viável ou não. Exemplo, eu quero comprar a coleção de DVDs do 007 que vem em maleta e custa mais de 1000 reais e também quero comprar um ilha, um barco. Nada disso é viável para mim. Mas eu também quero comprar um fone de ouvido descente. Eu quero comprar um novo DVD player e uma nova TV. E isso é, em termos, viável aos meus recursos (embora, não de uma única vez). Mas note que eu não quero comprar um carro. Não é necessário definir o que você não quer comprar, mas definir de forma clara o que quer comprar é importante. Tente ajustar o que considera importante ou possível de comprar em 2009 nos meses que tiver dinheiro para fazê-lo (por exemplo, minha TV está com defeito, não sobreviverá 2009, logo eu precisarei substituí-la). Muitos dos itens não se enquadram no seu orçamento - no meu caso, a ilha e o barco são sonhos que hoje são impossíveis (otimista, eu não ? Felizmente sonhar e de graça). E fique de olho na próxima questão.

Resista ao máximo as tentações ou planeje quanto você vai gastar com elas. Existem pessoas que são realmente compulsivas, essas precisam de acompanhamento médico. As demais, pensam nas oportunidade imperdíveis do momento. O problema é que existem inúmeras oportunidade imperdíveis. Mas algumas são mesmo imperdíveis, oras, renda-se conscientemente. Planeje quanto você pode gastar com as oportunidade imperdíveis. Como você vai saber ? Fácil. Quanto você poderia ter gasto em 2008 ? Isso lhe dá uma idéia de quanto você pode gastar em 2009 ? Mais ou menos, mas certamente é melhor que nada. Observe também que tudo que você deseja está na lista de compras, portanto, tentações somente vão ser tentações se estiver na lista de compras, do contrário sua lista não foi bem feita.

Ei ! E não se esqueça dos impostos. Estou falando do IPTU, IR, IPVA e todas aquelas siglas que existem.

Caso tenha filhos, não se esqueça deles também. A questões relativas a filhos que transformam o problema econômico em um problema emocional. Mas até isso é previsível. Superestime esses gastos.

Uma questão importante. O que te faz pensar que eu tenho gastos excedentes ? Eu ainda não falei de excedentes em si. Note que eu estou assumindo que você quer passar o ano no azul. Isso significa ajustar os seus gastos aos seus ganhos. Oras, não dá para comprar DVD, ir ao cinema ou comprar livros ? Não tem problema, dá para ir ao jardim botânico (na cidade que tiver um, claro), passear pela cidade, ir a praia (em cidade litorâneas, claro) e outras coisas que podem estar mais ou menos disponíveis dependendo de onde vive. Dá para se divertir sem gastar. Então, esse pode não ser o problema. Diga-se de passagem, quem é do Rio é privilegiado.

O problema, muitos dirão, é que não dá para o básico. Aí a questão é que seu básico não é adequado ao seu orçamento. Não dá para considerar isso de forma mais suave. Veja bem, se não der para comprar comida, pagar água e luz (supondo que tenha casa e ela seja própria). Tem algo errado. Ah ! Mas o plano de saúde é caro demais. Concordo. Não dá para viver sem ele. Concordo em partes. Esse é problema mais comum. Por aqui, viver sem plano de saúde pode ser um problema sério, mas se você não consegue pagar as contas básicas que tem mantém vivo, o que você pretende fazer ? Não dá para fazer mágica. No máximo pode tentar dividir os custos de moradia com mais alguém, mas mágica não dá para fazer. É uma situação triste ? É. Muitos porém, não possuem planos de saúde algum, mas possuem carro, TV, DVD player, e outros itens. Ok ! Isso é válido. Mas saiba que sua escolha, foi uma escolha tão planejável quanto qualquer outra. Não dá para colocar a culpa no planejamento.

O ponto central é que quando se diz, corte os custos, estamos dizendo: "elimine os excessos". Mas também estamos dizendo: "se necessário, diminua seu padrão de vida". Isso não é considerado como sinônimo pela maioria da população. E para falar a verdade é uma frase bem triste.

E por falar em excedente. No final do ano de 2009 você pode ter a grata surpresa de ter algum dinheiro a mais no bolso. Sim, acontece. Eu por exemplo, tenho um excedente de 12 reais todo mês. Significa que na minha planilha de 2009 estou listando todos os meus ganhos, ajustando todos os meus gastos e sobraram 12 em cada mês (na média). No final do ano são 144 reais que serão somados ao que foi previsto e não foi gasto durante todo o ano (exemplo, o dentista, que como eu disse, eu sempre estimo mais do que gasto).

Esse excedente pode ter três destinos. O primeiro é ajudar no ano seguinte, ou seja, no início de 2010 você usa o excedente de 2009 para passar pelo início do ano, que sempre tem mais gastos. O segundo destino é o acumulo - junte ao pé-de-meia. E o terceiro é comprar algum item interessante para você mesmo que (de preferência) estava na sua lista de compras, mas que não estava com a compra prevista para o ano até o momento.

O planejamento não resolve a questão do como colocar dinheiro dentro de casa, mas de dá uma visão clara do que deve/pode ser feito durante o ano e na pior das hipóteses o quanto deve-se ganhar para manter aquele planejamento.

Eu também costumo fazer mais de um planejamento. Isso me permite ter uma visão otimista, pessoal, muito pessimista, restritiva (ou seja, só com gastos fundamentais) e provável da minha situação (a pessoal é a que eu uso, que é apenas um pouco mais pessimista que a provável). Também me permite pensar antecipadamente o que eu faria se certas coisas acontecessem. Exemplo, o "cano do banheiro furou". É possível ajustar o orçamento ? E considerando o orçamento provável ? No cenário otimista é possível ? Se no cenário otimista não for possível é possível no cenário restrito ? Aí eu sei que se nesse último não for possível, não há como resolver o problema sem entrar no vermelho ou sem recorrer a algum recurso externo (seja o pé-de-meia ou um empréstimo).

Se exercitar sua capacidade de estimar diferentes cenários, verá que os imprevistos são realmente muito, mas muito raros e pode até ser contornados com eficiência pelo pé-de-meia ou mesmo pelos gastos que foram estimados, mas não foram consumidos.

Muito importante ! Seja sincero nas suas estimativas. Não se traia. Se não estiver interessado em manter os controles das contas, nem perca tempo começando. O compromisso deve ser sério, do contrário, não adianta nada. Ser otimista demais ou pessimista demais pode lhe oferecer perspectivas interessantes, mas só isso.

Conforme for passando o ano, vá substituindo os valores previstos, pelos valores realmente gastos (não deixe de passar um mês sem atualizar). Isso vai lhe permitir entender bem como vai sua vida financeira e te ajudar a otimizar os recursos no caso dela ter uma súbita e agradável melhora ou a antecipar os problemas que estejam se formando.

E só para constar, eu uso o moneylog para gerenciar minha vida financeira. A prova mais eficaz que não é necessário mil opções para colocar o orçamento no papel. Aqui vai o link para o moneylog v3, mas eu ainda uso a segunda versão.

Note também que planejamento financeiro guarda implicitamente muitas das técnicas do GTD. Por exemplo, colocar fora da sua cabeça tudo que pretende comprar em curto, médio, longo e longuíssimo prazo. Seja real ou não. No orçamento, é possível definir com clareza se o que pretende fazer é compatível com que pode ser feito.

11 comments:

  1. Ótimo post, esse ano que entra eu vou tentar tomar as rédeas das finanças da casa, vou usar o GNUCash pra isso, é muito bom, gratuito e depois da versão 2 ficou até bonito :)

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  2. Eh ! a questão do software é mais complicado do que deveria ser.

    Eu aprendi a fazer isso com meu avô, que usava lápis/caneta e papel. Pensando assim, o Moneylog é melhor para mim...

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  3. Fantástico o texto.. parabéns..!

    Eu faço um controle paralelo aos meus gastos.. e como vc não comentou.. fica como um add.

    Eu controlo - desde que comecei a trabalhar (já faz 5 anos) mensalmente meus ganhos.. e isso depois de um tempo possibilitou a comparação dos valores ao passar do tempo.. percebi que tenho em média 25% de ganho todos os anos..! Consigo establecer melhor meus padrões..

    Abraços..

    Juliana Colacite Tanganelli
    Juliana@Tanganelli.eti.br

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  4. Juliana,
    Eu diria que as duas abordagens são igualmente importante. Contudo, o controle paralelo sem uma certa projeção futura peca por não lhe dar uma visão do que vêm por aí, ou seja, ele diz: no momento você têm 1 mil reais, mas não informa que em 10 dias você terá de gastar 900 reais com aluguel. O ideal é que você tenha os dois no mesmo ambiente, pois quando você coloca o gasto atualizado você verá no mesmo instante o que vai acontecer no futuro, evita problemas.

    Se já vem fazendo o controle, você tem tudo nas mãos para fazer a previsão detalhada do próximo ano...

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  5. Estou começando agora a palnejar meus gastos ea fazer planilhas, esperoq eu no fim de 2009 eu consiga ter as planilhas deste ano bem arrumadinhas para me planejar melhor para o outro. Um dia temos que começar né?

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  6. Darlana, esse é um ótimo ponto.
    Muita gente não começa porque acha que não vai ter tudo organizado direitinho, mas são também quem nunca vai ter tudo direitinho porque nunca começou...

    Quebrar esse ciclo é muito importante. Eu mesmo comecei a fazer minhas planilhas em um mês de fevereiro... depois dos primeiros desafios, tudo fica mais simples.

    [ ]'s

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  7. Olá!
    Minhas recomendações:

    - JabpLite (roda em qualquer celular que suporte java. É o único que eu uso, até para controlar os extratos do Banco do Brasil)
    http://www.freepoc.org/viewapp.php?id=58

    - JABP (aplicação desktop, feita em java)
    http://www.freepoc.org/viewapp.php?id=6

    Planilhas:
    https://www.pearbudget.com/spreadsheet (muito boa!)
    http://www.ratestate.com/news/index.php/free-budgeting-tool

    Seleção de ferramentas:
    http://www.financialramblings.com/archives/19-free-personal-budgeting-spreadsheets-excel/
    http://www.mymoneyblog.com/archives/2006/11/big-list-of-free-budgeting-tools-and-software.html

    Bom uso!!!

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  8. Flávio,
    obrigado pelos links. Tenho certeza de que serão muito úteis.

    []

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  9. Ótimo post!!!
    O mais difícil realmente é começar e conseguir uma ferramenta que ajude a otimizar o processo...
    Eu, pessoalmente utilizo o SplashMoney (http://www.splashdata.com/splashmoney/). Simples e muito funcional. Se você tem um Palm, melhor ainda, ele se integracompletamente com a versão para Palm.

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  10. Um post excepcional e extremamente oportuno. Vou seguí-lo à risca.

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  11. Muito bom! Eu uso uma simples, mas simples planilha que relaciona tudo que eu gasto. Desde presente para a sogra até os impostos. Demorei uns 2 anos para "otimizar" ela e posso dizer que desde então nunca mais entrei no cheque especial e devi um centavo se quer a alguém :-)

    O negócio é fazer o dinheiro trabalhar para você e não você trabalhar pelo dinheiro.

    Abraço

    E um ótimo 2009 com dinheiro no bolso.

    Ulisses

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