Um mapa comum apresentado por várias fontes, como na cobertura do G1, é apresentado abaixo.
Se ainda não percebeu, esse gráfico possui uma péssima representação visual. Ele fornece um panorama de vitória pelo estado e utiliza uma escala de cores inadequada para os valores apresentados.
Resumindo, olhando para esse gráfico, é possível cometer o erro de pensar que o país é dividido entre norte/nordeste e sul/centro-oeste, com raras exceções.
Agora, vejamos a análise de resultados apresentada pelo Estadão (todas as figuras abaixo foram retiradas de lá). Você pode até dizer que é um jornal pró-direita ou pró-esquerda, francamente, isso não importa aqui.
O mesmo gráfico, mas discretizado por municípios. Essa escalara de duas cores por candidato, diz o seguinte: a cor mais clara é para quem tem menos de 65 % dos votos, a cor mais escura é para quem tem mais de 65 % dos votos. A região em vermelho teve vitória da Dilma, e a região em Azul teve vitória do Serra.
Bem, a natureza do gráfico permite dizer que as regiões onde a Dilma ganhou com mais de 65 % dos votos é maior (em área) que a região onde o Serra ganhou com mais de 65 % dos votos. Também é possível perceber que a região onde a cor mais clara prevalece é maior que a região onde a cor mais escura prevalece, seja cor azul ou vermelho. A região mais clara das duas cores representa vitórias com menos de 65 % dos votos válidos, ou seja, o candidato vitorioso teve de 50 a 65 % dos votos naquela região, de onde deduz-se que o outro candidato teve de 35 a 50 % do votos válidos (no dois caso, temos um intervalo aberto, do contrário, não tem sentido o que eu escrevi envolvendo o 50 %).
Olhando com mais detalhes, no mesmo local que retirei a figura anterior, observa-se outro tipo de gráfico, apresentando apenas os resultados de um ou outro candidato.
Nesse esquema, percebe-se aquilo que foi visto no gráfico anterior, mas também percebe-se que na maior parte do país, o candidato vitorioso na região teve entre 25 % e 65 %. Isso permite observar que a força do Serra nas regiões Sul/Centro-Oeste. A análise microscópica dessas regiões revela certo equilíbrio entre as duas forças, portanto, a suposta divisão do primeiro gráfico apresentado não é verdadeira. Também permite observar que em muitos lugares onde a Dilma ganhou com mais de 65 % dos votos, o Serra não teve nem mesmo 25 % dos votos. E dos lugares onde o Serra ganhou com mais 65 % dos votos, na maioria dos casos, a Dilma teve entre 25 e 35 % dos votos. Apenas três pontos isolados do país produziram menos de 25 % dos votos para a Dilma.
Por fim, não devemos esquecer de olhar a abstenção. Isso é importante porque pode justificar ou não a derrota e vitória de um certo candidato em uma certa região. Como o gráfico baixo não possui um perfil similar a nenhum dos dois gráficos acima, permite-se concluir superficialmente que a taxa de abstenção não prejudicou a representatividade do país.
Dito isso, concluí-se de forma simples, que não devemos realizar observações locais a partir de dados globais e que não se deve deixar de ler o que cada coisa que está no gráfico representa. Também espero ter demonstrado como a estatística é uma arma, porque mesmo aquilo que escrevi aqui é passível de novas interpretações utilizando dados mais detalhados para construir novos tipos de gráficos.
Para que ninguém diga que eu cometi injustiças, nos dois casos referenciados é possível acessar claramente e facilmente o valor numérico dos dados. De forma que aqui julgo apenas a forma visual do gráfico que pode produzir análises tendenciosas para quem não olhar os números, nada mais, nada menos.
Acrescento também que o G1 fornece o gráfico em barras que apresenta o resultado de forma muito mais clara que o gráfico utilizando o país, como pode ser visto abaixo. É também fato que esse tipo de gráfico é preferível do que qualquer outro apresentado acima. Pois não permite dúvidas. Seu único "problema" é não ter impacto visual.
[update 01/11/2010]
E para concluir o assunto, o G1 disponibilizou uma análise fria dos dados por região, apontando que a Dilma teria ganho a eleição, mesmo desconsiderando os dados das regiões norte e nordeste. Seria uma vitória por apenas 257 mil votos, pouco mais de 0,38 % dos votos válidos da região. Isso mostra como o primeiro gráfico ilude. A vitória de Serra nas regiões centro-oeste e sul foi apertada e no sudeste ele perdeu (apesar de ter ganho em São Paulo).
[/update 01/11/2010]