Eu não vou mais falar sobre a queda do Reader, todos já estão cansados de falar sobre. Mas o que ainda não se esgotou foram as discussões sobre as consequências.
Hoje, existem duas corrente contraditórias na vida digital.
A primeira corrente prega que você deve ter o controle de todos os seus dados. Todos mesmo. Isso significa que você deve instalar um servidor de emails na sua própria residência, se tiver um site, também instalá-lo na sua residência (seja a máquina dedicada ou não a isso) e não deve, de forma alguma, manter qualquer conta, em qualquer serviço disponibilizado na internet, ou seja, na nuvem.
Em outras palavras, nada de Gmail (ou qualquer outro serviço do Google), Evernote, Dropbox, Wunderlist, Facebook, LinkedIn, Feedly, Pinboard.in, Delicious, Blogger, LastPass, etc, etc e etc. Esses são apenas alguns exemplos que vieram na minha cabeça agora, mas os serviços na internet são muitos.
Essa corrente prega que você não pode usar nenhum desses serviços, deve e pode, entretanto, usar o produto que o serviço inspira se puder fazer isso em seu próprio servidor caseiro. Acredite, isso é possível e nem é tão difícil assim. Dá bastante trabalho, mas é apenas esforço e tempo de instalação e, em alguns casos, de manutenção (nota: tem gente que vive assim !). Embora, coisas como Facebook e LinkedIn somente façam sentido na coletividade, é possível você manter a ideia de ter um perfil online com contato via uma página publicada a partir de um servidor instalado na sua casa.
A outra corrente é a exatamente oposta. Ela diz que todos os seus arquivos devem estar na internet, na nuvem, a sua máquina física não deve ter nenhum único aplicativo localmente instalado, a não ser o navegador de internet e o que for necessário para iniciar esse navegador.
Assim, nada de suite de escritório, calculadora (mesmo a mais simples), player de vídeo ou música, editores de imagens ou mesmo de gerenciadores de arquivos, já que o seus arquivos mesmo não devem estar na máquina.
A primeira corrente tem como maior vantagem o controle completo dos seus dados e dos seus aplicativos, ou seja, nenhum aplicativo fica offline se você não "quiser" e como grande desvantagem o fato de que você tem que ter uma certa intimidade com o computador. Eu jamais sugeriria a uma amigo que acabou de conhecer uma máquina a instalar tudo que é necessário e viver esse modelo de gerenciamento de arquivos.
A segunda corrente tem como maior vantagem a independência. Seus dados estão onde você estiver e não na sua máquina. A máquina queimou, troque-a. Qual é problema ? Não tem nada nela mesmo. Claro que você tem o "problema" do custo financeiro do equipamento, mas não paga o custo de perder um dado porque o seu HD queimou e o seu programa de backup de dados ou é inexistente ou é ineficiente. Sua história está salva. Sua grande desvantagem está no fato de que você fica refém da empresa que gerencia os dados e serviços que você usa na internet. Essa corrente tem ganho muito força desde que veio a tona o conceito de Web 2.0 e acabou de chegar ao seu ponto máximo quando o Google lançou o ChromeBook, que é o notebook que leva esse conceito a risca.
Por exemplo, o Google Reader. Sim, voltamos a ele, mas por pouco tempo, eu juro...
A Google fechou o Google Reader. Se você lê RSS via aplicativo no Desktop, você não está nenhum um pouco preocupado com o que aconteceu/acontece com o Google Reader. Se você usa o modelo de aplicativos online para esse serviço, então você está procurando (ou já encontrou) um novo serviço e percebeu que não é tão fácil assim substituir o líder de um setor. Pronto acabou ! Não vou falar mais no serviço que você sabe qual é novamente nesse tópico.
E onde você/eu estamos ?
A maioria das pessoas estão no exato meio termo sem grandes avaliações das consequências das decisões atuais. Os eventos recentes pedem essas reflexões. Seus serviços, certamente, não precisam estar online daqui a 10-20 anos, mas seria muito bom que você os tivesse, não seria ? Não seria bom ter garantias ?
Mas lembre-se que a própria internet não era nada em 1993, ou seja, a 20 anos atrás, como garantir os 20 anos seguintes ?
Hoje, existe um grupo de serviços, como o Evernote e o Dropbox que permitem que você esteja bem seguro com relação aos seus dados e notas. Se o serviço fechar, eu ainda tenho tudo que é meu comigo.
Nada ficou a vento, nada irá se perder. Tudo tem cópia na minha máquina também. E aqui está a palavra mágica: "Também".
Hoje eu ganhei a visão da redundância. Quero os meus dados online (de forma segura, claro, mas sem ser paranoico), porém, não quero ser refém de uma empresa ou de um serviço. Ainda não consegui atingir essa meta e dado o meu descaso passado com essa importância vai demorar um pouquinho para eu resolver esse problema, mas, penso em algumas atitudes a serem tomadas:
- Voltar a usar um aplicativo de desktop para gerenciar o email.
- Tem conta em uma empresa de hospedagem de site (mantém um espelho do site na minha máquina).
- Usar essa conta para manter o blog
- E, quem sabe usar essa conta para instalar alguns aplicativos para uso próprio para que eu me desvincilhe de alguns serviços exclusivamente online.
- Fazer backup dos meus bookmarks na internet com mais regularidade (veja-o aqui, se for do seu interesse).
- Contratar um plano mais robusto do Dropbox.
- Gerenciar melhor os meus compromissos (agenda e gerenciador de tarefas). De alguma forma, não usar apenas o Google Agenda, talvez, usar o mesmo aplicativo do gerenciador de emails para manter uma sincronia com o Google Agenda ou serviço similar.
- Minimizar o uso de aplicativos online (esse eu já estou colocando em prática ! Deletei uns 10 serviços essa semana e me sinto muito mais feliz !!!).
Ainda, claro, tenho que pensar mais sobre outras atitudes a serem tomadas, mas registro algumas observações sobre o que eu escrevi acima. Por exemplo, planejei minhas modificações pensando em gastar dinheiro. Oras, hospedagem de internet e conta de Dropbox custa dinheiro. Têm que haver disposição para pagar, ou seja, achar que isso vale apena (e eu acho) e tem que ter o dinheiro para pagar, bem, aí entra umas coisinhas a serem levadas em consideração, né ? Se não tiver recursos, pode pensar em investir em alternativas (um confiável HD externo, por exemplo, mas têm que pensar antes - cada caso é um caso), mas ainda assim terá algum investimento, seja mensal/anual ou fixo.
Outras atitudes dependem apenas de eu colocar em prática, deletar serviços, instalar um programa de gerenciar email/tarefas e fazer backups com regularidades.
Destaco a última tarefa da minha lista, ela é, ao meu ver, a mais importante de todas.
Todas as coisas inúteis devem sumir da sua vida. Não porque não sejam úteis para outros, mas se não são úteis para você, então, porque você os têm ? Eu os tinha porque eu me inscrevia e não os deletava. Acumulava e não me dava ao trabalho de encerrar as contas e, no processo, baixar os dados.
Eu acreditei na "nuvem", agora eu vejo a tempestade se formando.
Eu não vou ficar em casa por causa de uma chuva, mas para me preservar preciso providenciar logo um guarda-chuva.